quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

ATÉ QUE PONTO ESTAMOS DISPOSTOS A MUDAR?

 Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou o dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês


Este é um treco da música "Ouro de Tolo" do Raul Seixas. Sempre que eu ouvia essa música, quando mais nova, a achava muito interessante. O sentimento de descontentamento do eu lírico sempre me intrigou, mas conforme fui crescendo e vivenciando muitas coisas, comecei a entender. 

Eu devia estar contentePor ter conseguido tudo o que eu quisMas confesso, abestalhadoQue eu estou decepcionado


Um tempo atrás comentei com a minha mãe " por que parece que algumas pessoas na vida conseguem as coisas tão mais rápido que eu? Como aquela moça do interior que veio pra cidade grande com os filhos e já conseguiu comprar casa, carro. E eu consegui comprar um carro agora, financiado e todo cheio de problema por que eu não entendo nada de carro..." Daí minha mãe falou algo como "Pra você parece que foi rápido, mas pras pessoas que estão vivendo demorou e foi sofrido.". 

Porque foi tão fácil conseguirE agora eu me pergunto: E daí?Eu tenho uma porçãoDe coisas grandes pra conquistarE eu não posso ficar aí parado

Eu estava há cinco anos num trabalho que me dava relativa estabilidade, um cargo efetivo, e eu trabalhei muito nesses cinco anos. Quase não faltei, a não ser quando estava muito ruim, e quando ia doar sangue era sempre um dia que não atrapalharia o andamento do meu setor. E mesmo assim, não estava bom. Nos últimos dois anos eu comecei a me sentir sobrecarregada, teve uma época que eu estava deitada na cama prestes a dormir quando me lembrava de algo urgente que tinha que fazer no dia seguinte. Tinha dias que eu quase perdia a hora, de tanta coisa pra fazer. E mesmo assim, ainda não estava bom. 
Para algumas pessoas o meu trabalho era facilmente descartado, já que quando chegava lá na frente acontecia qualquer coisa, mudar um número, uma especificação e eu tinha que refazer tudo. Isso foi me matando, e tudo isso pra que? Um salário relativamente maior que o resto das pessoas, não tinha nenhuma vantagem, nenhum vale alimentação, nenhuma ajuda de custo. Era, como se diz, seco. 
Eu tinha um colega de setor que no começo eu o odiei, era uma pessoa muito estranha, tinha umas brincadeiras bestas, um humor que não combinava comigo, e me tratava mal com a desculpa que estava só brincando, mas como eu ia saber se mal o conhecia? No começo eu sentia que ele era o "principal" do setor, tudo que era importante ia pra ele, eu me sentia mal, queria trabalhar e mostrar que eu era capaz, até que, não sei quando, eu me tornei a principal, e não era bom. O meu chefe só sabia cobrar, literalmente só assinava papel e eu fazia o trabalho. O meu colega começou a parar de fazer, só me ajudava se eu pedia, não existia mais divisão de trabalho. Enquanto isso, outras pessoas por terem contatos já entravam ganhando bem mais que eu, e não trabalhavam um terço. 
No meu primeiro dia lá foi péssimo, era uma energia ruim. Gente estranha que me achava mais estranha ainda, me julgavam, me tratavam mal. Foi péssimo, cheguei em casa e chorei, falei que não voltaria mais. Meu marido falou pra eu tentar mais um pouco, um mês, dois meses. E assim eu permaneci por cinco anos.
Algumas semanas atrás eu não aguentei, me senti tão farta que saí da sala e fui chorar, desabafei com meu marido, falei que não aguentava mais tudo aquilo, e ele disse pra eu ter calma que assim que as contas diminuíssem eu poderia sair. Foi a partir daí que eu comecei a procurar vagas de empregos só por curiosidade para saber se eu teria alguma chance de achar um emprego com um salário minimamente decente. E eu achei um. Agora estou nos preparativos para começar num novo emprego, mesmo cheia de dívidas, que fui fazendo ao longo desses anos. Falta de controle financeiro, mas agora eu preciso mudar. Vou receber menos, mas terei algumas vantagens que no outro não tinha, como, por exemplo, trabalhar perto de casa, poderei ir de bicicleta e vir pra casa na hora do almoço, poderei fazer academia de manhã cedo e ficar a noite livre. O desconhecido me assusta, mas o conhecido me deprime. Não sei o que esperar desse novo emprego, mas não quero acabar triste como a música do Raul. 
Eu queria que algumas pessoas de lá, do meu futuro ex emprego, tivessem força de vontade de vontade pra mudar. Tem uma menina que trabalha no setor ao lado, ela entrou junto comigo. Ela tem uma formação melhor que a minha, e realmente não precisa do salário pra sobreviver como eu, ela trabalha mais pra ter independência financeira, mas isso custa caro pra ela. A chefe dela é horrível, uma pessoa egocêntrica, grossa e estupida que fala mal dela pelas costas, briga com ela a todo momento, e mesmo essa menina aguenta. Ela me disse uma vez que as pessoas se acomodam. É tudo o que eu não quero. Eu preciso de mudanças. Estou disposta e quero o melhor. 


POR QUE JOGAMOS A CULPA NOS OUTROS SE NOSSAS ESCOLHAS FORAM FEITAS POR NÓS MESMOS?

Estou bem magoada com meu marido, veja bem, ele está sem falar com meu pai e isso deixa meu velho triste por que ele gosta muito do meu mari...